Ao sonhar fugir de uma civilização que lhe parecia insípida,
rasa e insatisfatória, Gauguin deixa Paris em direção ao Tahiti: pressente que
vai encontrar ali, naquela pequena
sociedade primitiva, imerso em um contato imediato com a natureza, uma forma
mais pura e mais plena de viver.
Rumo aos mares do sul, então: o éden, o idílio, o paraíso na
terra. Despir-se da racionalidade e da lógica para mergulhar nos sentidos e nas
sensações, em busca das camadas mais fundas e desconhecidas de seu espírito
aventureiro. Abraçar o mar e o amor, a
areia e a vegetação exótica de trópicos distantes, pródigos na promessa de um
erotismo inocente e feliz.
E não se pode dizer que estivesse errado, uma vez que nestas ilhas desabrochará o melhor de sua arte: a cor, a flor, a mulher. As folhas, o riacho, o cipó. A palmeira. O sol. A selva de sonho formada por azuis de fantasia, por violetas exóticos, por verdes e laranjas enigmáticas, e que parecem mesmo sussurrar: eis aqui o mistério da vida.
Paul Gauguin: "Mulheres de Tahiti na Praia", 1891 Paul Gauguin: "Reclining Tahitian Women", 1894